Assassin’s Creed: Mirage – Análise

Depois de autênticas Odisseias que se estenderam por centenas de horas de jogo, a Ubisoft quis voltar às origens de Assassin’s Creed com Mirage, um jogo que o estúdio prometeu ser mais curto e coeso, focado na furtividade e nas mecânicas que ajudaram a solidificar uma franquia com mais de 15 anos.

Efetivamente, Assassin’s Creed Mirage é um regresso ao passado em mais do que um sentido, especialmente quando comparado ao anterior título da franquia, Valhalla. Para trás ficam os inúmeros minijogos, um mapa mundo gigantesco e um sistema de combate que nos convidava a enfrentar os inimigos de frente. Em termos de referências, Mirage adota um gameplay similar ao de Unity e Revelations, levando-nos a explorar a cidade de Bagdade para encontrar formas de chegar aos nossos alvos. Por sinal, a cidade iraquiana é bem mais pequena e densa do que as cidades dos últimos títulos da franquia.

Mirage começa por marcar pontos aqui. A cidade de Bagdade transpira vitalidade e beleza, com as suas mesquitas, mercados repletos de pessoas, muros e edifícios inspirados na arquitetura islâmica, que a tornam num recreio para Basim, que ágil como um felino, tem à sua mercê os telhados e abóbadas da capital iraquiana. A cidade está repleta de pormenores históricos deliciosos, não só a nível visual como também sonoro, como as conversas que dão fulgor às ruas estreitas, a música nas praças ou as rezas islâmicas que ecoam regularmente pelas paredes de Bagdade.

Para lá dos muros da cidade, temos desertos, oásis e ruínas, que embora não sejam tão férteis em tesouros e pontos de interesse, valem a pena pela sua beleza natural.

Mais ligeiro que os antecessores, Mirage não deixa de ser um jogo de mundo aberto da Ubisoft, e como tal, podem esperar um mapa repleto de ícones para explorar, felizmente – e sem querer abusar das comparações – a sua concentração é bem mais ponderada que os antecessores recentes, e as recompensas são mais interessantes. Para além das clássicas torres onde sincronizamos o mapa, temos arcas com equipamento e materiais de melhoria e pequenos pedaços da história de Bagdade e da cultura árabe.

Sabe bem parar para apreciar as vistas.

A narrativa de Mirage também está profundamente interligada com a cultura da região e não obstante a constante entrada e saída de palco de personagens secundários, é relativamente interessante, mesmo para quem não tenha seguido de perto todos os jogos de Assassin’s Creed.

Neste capítulo, nota-se um especial cuidado do estúdio na forma como apresenta o passado da região, integrando-o de forma mais direta e fluída no gameplay.

Costuma dizer-se que bom filho à casa torna e Mirage é um regresso assumido por parte da Ubisoft. Basim é ágil e esguio, e navegar por Bagdade é um verdadeiro prazer. Basta manter um botão pressionado para escalar paredes, saltar por vigas, correr por cordas nos telhados – Basim sopra como uma brisa de vento do deserto por entre as paredes da cidade, pronto a cair sobre os seus alvos silencioso e letal, como mandam as regras.

Se descoberto, as coisas mudam de figura, Basim não é um viking duro de roer e bastam alguns golpes para derrotar o nosso herói, que ainda assim está bem armado para se defender. O sistema de combate é básico, e pode ser resumido a uma dança simples entre bloquear ataques fracos e evitar golpes fortes, contra-atacando de seguida. A pouca variedade de inimigos e a falta de bosses mantém este sistema descomplicado – as coisas só mudam de figura quando somos rodeados de adversários.

O pôr-do-Sol em Bagdade cria um mosaico de sombras encantador.

Ainda que não seja de todo impossível enfrentar um grupo numeroso de guardas, a melhor solução é quase sempre fugir. A agilidade de Basim é trunfo, mas também temos acesso a outras ferramentas, como bombas de fumo ou armadilhas explosivas. Ainda assim, ao longo da minha aventura, só usei praticamente as facas, por serem uma opção eficaz, letal, e praticamente inesgotável, depois de um par de upgrades.

De facto, nunca senti a necessidade de combinações muito exóticas para completar as missões de Asassin’s Creed Mirage. Infelizmente, o loop de gameplay mantém-se similar ao longo do jogo. Investigar uma zona em busca de pistas, localizar o alvo e às vezes uma chave para lá chegar e tratar-lhe da saúde. O que vale é que o design dos níveis é interessante e permitiu-me sempre explorar várias formas de chegar ao meu alvo.

De resto, é quase sempre uma questão de paciência, em procurar o melhor ponto de infiltração, ou quando esta escasseia, pura e simplesmente assassinar todos os guardas. Não há qualquer penalidade em fazê-lo, mesmo quando estão em grupos – a inteligência artificial é penosa, com guardas a levar uns bons 10 segundos para se aperceberem que acabei de matar um dos seus colegas mesmo à sua frente, e outros 10 para chegarem à inevitável conclusão que serão os próximos.

Por esta altura, já deviam ter percebido que a sua estratégia não funciona.

Chega a um ponto que nem grupos numerosos conseguem ser uma ameaça graças ao novo Assassin’s Focus, uma habilidade especial, que permite eliminar até 6 guardas de uma só assentada, como se nada fosse.

Já as missões secundárias são formulaicas e tornaram-se algo repetitivas após ter feito algumas delas. Por outro lado, são simples, curtas e diretas, e oferecem recompensas palpáveis, como equipamento ou pontos de habilidade. Em troca, só tenho de roubar um item, assassinar um alvo, escoltar um NPC, ou participar numa corrida.

De assinalar que tive alguns problemas com a performance de Asssassin’s Creed Mirage. Mesmo com uma máquina que excede largamente as especificações necessárias, sofri stutters e frame drops esporadicamente. Ainda que não tenham sido suficientes para arruinar a experiência, foram em número suficiente para incomodar.

Share