Football Manager 2024 – Análise

Football Manager tem uma grande qualidade: mesmo quando não é assim tão bom, é bom na mesma. Felizmente, a edição de 2024 trata de algumas das excentricidades do antecessor, com o novo motor de jogo a dar, finalmente, uma sensação diferente às partidas, e ajustes suficientes às negociações e táticas para trazer novos jogadores ao simulador, sem descurar aqueles que procuram uma experiência mais profunda.

Em Football Manager 2024, a Sports Interactive introduz uma funcionalidade inédita na franquia, e na esmagadora maioria de títulos de desporto: a possibilidade de utilizar saves do jogo anterior na nova edição. Ou seja, posso continuar a minha caminhada gloriosa com o Real Betis na Liga dos Campeões. Alternativamente, posso criar ‘O Meu Mundo’. Nesta opção, que será útil numa fase mais avançada da época real, os plantéis continuam iguais ao que estavam no início da temporada. Transferências depois de agosto não serão incluídas, mesmo que o jogo tenha uma base de dados nova. Por exemplo: se o AC Milan contratar Tiago Djaló em janeiro, e nessa altura eu começar uma carreira no modo ‘O Meu Mundo’, o central português não vai estar no plantel dos rossoneri.

Há três opções possíveis para uma nova carreira, com a possibilidade de importar saves de FM 23.

Ao começar uma nova época, a grande preocupação de muitos treinadores virtuais é retirar os elementos indesejados do plantel. Pode ser um jogador demasiado velho, alguém com um salário demasiado elevado ou simplesmente um jogador que não é bom o suficiente. Noutros anos, esta tarefa relava-se muito árdua, especialmente na primeira temporada. A introdução de intermediários tem-se revelado uma adição muito bem-vinda. É simples de utilizar: basta ir ao menu, selecionar um dos intermediários e no espaço de 2-3 dias recebemos uma proposta.

Para alguns puristas, pode ser um processo demasiado simplista e até irrealista – confesso que não conheço suficientemente bem os meandros das negociações futebolísticas para avaliar isto. Porém, é agradável não ter de passar por um processo que faz lembrar o documentário de Netflix de Luís Figo sempre que quero vender o meu lateral direito de reserva por 300 mil euros. É evitável para quem não quiser usar, mas acredito que se tornará na norma para muitos jogadores.

A introdução de intermediários simplifica a venda de jogadores indesejados.

Por falar em facilitar, a criação de jogadas de bola parada é mais acessível que nunca. A possibilidade de contratar um especialista de bolas paradas para a equipa técnica e, através de umas respostas rápidas no menu, definir uma estratégia, é agradável e já me valeu alguns a golos a partir de pontapés de canto. Para quem quer uma abordagem mais profunda a esta dimensão do jogo, os menus de criação manual das bolas paradas continuam desnecessariamente complicados, mas permitem o mesmo leque de opções de edições passadas. Porque não permitir o desenho de rotas individuais para cada jogador num canto, algo semelhante ao que FIFA 12 tinha?

É possível criar as táticas de bolas paradas automaticamente, com a ajuda de um treinador adjunto.

Na edição passada, Football Manager 2023 parecia estar a apresentar as primeiras rachas na redoma, com o jogo a apresentar vários problemas dentro de campo, como a aparente inabilidade dos defesas de fazer passes de cinco metros, ou a descoordenação motora aguda do guarda-redes quando confrontado com uma bola a viajar a 4km/h. Foi uma época dura, que me deixou incapaz de utilizar táticas focadas na posse de bola. Por isso mesmo, comecei a minha vida no Football Manager 2024 com dois grandes objetivos: jogar nas alas e cruzar para o meio. Desinspirado? Talvez, mas sempre seguro.

Felizmente, não parece ser necessário desta vez. A Inteligência Artificial melhorou significativamente, com os jogadores a tomarem as decisões acertadas com maior regularidade e, ao arriscarem no passe, há sempre a sensação de que foi um risco justificado, ou porque não havia outra opção ou porque havia um colega mais longe em melhor posição. Ainda há erros individuais, claro está, mas isto decorre sempre das características individuais de cada atleta.

Football Manager não pretende rivalizar com jogos como EA FC no que toca a gráficos, mas há umas agradáveis melhorias nos efeitos de iluminação.

A juntar a isto, FM 24 continua o trabalho que o antecessor começou. Entre 2020 e 2022, parecia que o Gegenpress era a solução mágica para todos os problemas do desporto rei. Bastava colocar os nossos avançados e médios de duas estrelas a correr desalmadamente atrás da bola que faríamos tremer qualquer colosso europeu. Jogar num bloco recuado esteve fora de questão durante muito tempo, mas é com prazer que digo que já podemos voltar a estacionar o autocarro. Com o AC Milan, tentei não focar o meu jogo pelo meio, jogando sempre com a máxima largura e sem fazer pressão antes do segundo terço. Noutras edições de Football Manager, isto seria uma sentença de morte, mesmo contra equipas inferiores, mas desta vez o motor de jogo recompensa esta tática de forma mais equilibrada. Táticas de pressão alta continuam eficazes, mas os jogadores perdem rapidamente a energia.

As interações com jogadores continuam algo irregulares, e posso criar mal estar com um atleta por… elogiar a sua performance nos treinos. Quem jogou as últimas edições de FM conhece esta frustração, e pode contar com ela por mais um ano. Ainda assim, é possível incluir objetivos individuais no contrato de cada jogador (ex: número de golos, assistências, etc.), o que dá um elemento mais tangível a estas conversas sobre desempenho. Ainda assim, tal como as conferências de imprensa, são de tal modo repetitivas que cada vez mais acabo por as evitar por completo. Continua a ser uma das áreas que precisam de mais atenção por parte da Sports Interactive.

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