The Marvels – Análise

The Marvels é uma sequela direta ao filme da Captain Marvel protagonizado por Brie Larson como Captain Marvel/Carol Danvers, Teyonah Parris como Monica Rambeau e Iman Vellani como Kamala Khan/Ms. Marvel. As Marvels é o 33º filme da Saga do UCM e consequentemente é impossível de ser avaliado num vácuo. Numa altura em que o Universo Cinemático da Marvel e as séries do Disney+ são criticadas por terem uma qualidade menos constante, o escrutínio é cada vez maior e a famosa cantiga da fadiga dos super-heróis é apregoada sempre que se aproxima um lançamento grande.

Em 2019, a expectativa para a Captain Marvel era grande, visto ser uma das principais personagens femininas dos comics e a resposta da Marvel para fazer frente a uma Mulher Maravilha da DC Comics, elemento central da trindade da DC. Na Marvel, esse trio era protagonizado por Capitão América, Thor e o Iron Man que tiveram uma participação preponderante na Infinity Saga. No entanto, os tempos mudam e a progressão natural é que estes heróis deem espaço a outras personagens como o Homem-Aranha, Black Panther, Doctor Strange e a Captain Marvel.

O primeiro filme da Captain Marvel acabou por seguir a via de contar uma história com um trio de características que, quando juntas, podem prejudicar o entretenimento de quem quer conhecer melhor a personagem e perceber onde esta encaixa num universo cada vez mais expansivo: uma história de origem, amnésia e uma prequela. Como fã dos comics da Carol, acho importante mostrar como a personagem chegou àquele lugar e como atingiu esse status quo, mas acredito que o filme Captain Marvel (2019) sofreu com o facto de estarmos à espera que chegue o terceiro ato do história para ver a personagem em toda a sua força.

Foi com esse clima de adversidade e precaução que fui ver As Marvels e foi com muito bons olhos que vi esses três elementos que considerei prejudiciais ao primeiro filme fora do caminho. A realizadora Nia DaCosta – descendente de famílias portugueses para quem não sabe – trouxe-nos uma Captain Marvel na sua máxima força, com a plenitude das suas memórias e com todo o peso emocional e narrativo do conflito entre os Kree e os Skrulls, que por sua vez, foi aprofundado ligeiramente na Secret Invasion, mas que não é de todo um requisito para esta história.

Para além disso, ainda conseguimos entrelaçar a Monica Rambeau e a Ms. Marvel na história, duas personagens que foram inspiradas pela Captain Marvel de formas bem distintas e que vão pela primeira vez encontrar-se. Neste caso, a visualização de Wandavision e Ms. Marvel acrescenta profundidade e acaba por explicar como estas personagens adquiriram os podres, não havendo a necessidade de passar uma boa parte do tempo a criar estas ligações, sendo no entanto perfeitamente possível de apreciar o filme sem trabalho prévio. À sua maneira, foram adições muito bem vindas, criando momentos de tensão, comédia e com uma química entre as três que marcou o filme pela positiva.

Ao contrário de blockbusters passados em que vemos personagens a serem anunciados ou em destaque no poster para depois não serem mais do que acessórios, Monica e Kamala são de facto parte do trio que está presente em toda a sua plenitude, fazendo todo o sentido a mudança de nome de Captain Marvel 2 para as As Marvels.

O ritmo do filme é sem dúvida um dos seus pontos altos, com muito pouco tempo para respirar e beneficiando da energia d’As Marvels, criando assim um bom equilíbrio entre uma película a solo e um filme de equipa de super-heróis, dando atenção a todas as personagens, desenvolvendo a história das três sem parecer que alguma delas ficou prejudicada nem atirada para um canto.

A ligação entre as três não é puramente emocional estando a Captain Marvel, a Monica Rambeau e a Ms. Marvel ligadas e entrelaçadas entre si uma boa parte do tempo, teletransportando-se para o lugar umas das outras e criando uma dinâmica que funciona bastante bem em termos de efeitos visuais e da coreografia, outro dos pontos altos introduzidos por Nia DaCosta e executados na perfeição.

A performance de Brie Larson como Carol Danvers, continua fiel à banda-desenhada, com uma Captain Marvel inspirada na versão de Kelly Sue DeConnick, aparentemente das personagens mais fortes do universo, capaz de rivalizar com Thanos de um para um, que em 30 anos não parece ter envelhecido um dia, mas que em termos emocionais está longe de ser tão forte como o símbolo que carrega ao peito.

A Monica Rambeau por sua vez ainda está a lidar com as consequências do Blip e do seu encontro com a Scarlet Witch, tendo uma série de poderes novos mas que a fazem naturalmente hesitante. Tem sido uma das surpresas desta fase do UCM e faz-nos perceber o quão importante são as séries da Disney+ para criar empatia com personagens assim, sem ter de passar um filme inteiro a desenvolver o seu estatuto.

Já Kamala Kahn, tal como na série da Disney+, traz uma alegria e espírito positivo em todas as cenas que aparece. É como se o fã dentro de nós tivesse sido introduzido no filme, mostrando como uma rapariga que escrevia fanfics e desenhava fanart se encaixa no meio dos heróis e personagens que admira. Iman Vellani, que atualmente escreve o comic de Ms. Marvel conhece a personagem como ninguém, continua a ser das minhas personagens preferidas desta nova geração de heróis.

A narrativa dos Kree e dos Skrull volta a estar presente e é impossível não reparar nos paralelismos com alguns acontecimentos atuais da nossa realidade. Este conflito traz-nos a vilã Dar-Benn, interpretada por Zawe Ashton, uma Kree com sede de poder e sentido de justiça mas que não olha a meios para atingir os fins, tal como é característico em muitos vilões da Marvel. Infelizmente, o desenvolvimento da personagem não é assim tão profundo e um dos mais frequentes calcanhares de Aquiles do UCM volta a repetir-se com uma vilã pouco desenvolvida, mas que narrativamente faz sentido para avançar a história.

Dentro do elenco, a presença de Nick Fury e de Goose são igualmente de encher as medidas, protagonizando algumas das cenas mais hilariantes do filme, com um CGI que quase te faz esquecer que os Flerkens não são reais. CGI esse que comparativamente ao Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania está consideravelmente melhor. Ao contrário de Quantumania, que por diversas vezes nos retirava da imersão, em As Marvels não senti isso a acontecer apesar dos diversos locais por onde o filme passa.

Conseguimos vislumbrar um pouco do que vem aí para o UCM, com 2 momentos bastante esperados pelo público há já vários anos por isso não se esqueçam de esperar pela cena no meio dos créditos!

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