Kena: Bridge of Spirits – Análise

Kena: Bridge of Spirits chega-nos num ano inesperado, onde tantos outros jogos foram adiados ou cancelados devido à pandemia de COVID-19. A Ember Lab, produtora do jogo, estreia-se no mundo dos videojogos com este título indie e traz uma nova esperança ao panorama mundial de gaming, com um jogo que promete uma aventura emotiva, mágica e com muita ação. Kena: Bridge of Spirits traz-nos mais um mundo corrompido e nós, enquanto Kena, vamos salvá-lo, salvando os outros. E não é o que temos feito nestes últimos dois anos?

(Esta análise teve como base experiência de gameplay em ambas as gerações da PlayStation. Todas as questões gráficas mencionadas são, por isso, devidamente diferenciadas aquando da informação gráfica/performance do jogo.)

Kena: Bridge of Spirits é um singleplayer de ação e aventura jogado na terceira pessoa. Os jogadores vestem a pele de Kena – uma guia espiritual – e, com ela, viajam para aquele que é um mundo mágico repleto de cores, sons, paisagens…, mas ameaçado por espíritos corruptos que não conseguem passar para o “outro lado”. Este título é irreverente. Vem mostrar que “para trás é que é caminho” e que, não viajar para o passado faz-nos sobreviver apenas no presente e não nos permite projetar o futuro plenamente.

Dizer que Kena: Bridge of Spirits nos dá a oportunidade de protagonizar uma animação, como um filme da Disney, permitindo-nos visionar um mundo encantando mas “amaldiçoado”, em que salvamos almas com a força do nosso cajado enquanto fazemos amigos para a vida, seria uma boa analogia para retratar este primeiro título da Ember Lab.

Uma vila, um mundo, uma missão

Kena: Bridge of Spirits passa-se numa vila abandonada – vila essa que se torna no nosso novo lar durante aproximadamente 10 horas de gameplay. À medida que percorremos o mapa, deparamo-nos com uma vila não só abandonada, mas repleta de corrupção – o que é um pouco antagónico e, ao mesmo tempo curioso pela analogia que podemos fazer com o nosso mundo real.

Vemos imensa natureza, deslumbramo-nos com a fauna, com a flora… e, lá no meio, existe algo que destoa por completo e dá-nos a estranha sensação de “algo não estar certo”. Mas continuamos a viver o nosso dia-a-dia, contribuindo silenciosamente para que a “bolha negra” aumente. Em Kena: Bridge of Spirits não temos como fechar os olhos à triste realidade. Com a força espiritual e magia de um cajado, vamos fazer a nossa parte e salvar o mundo.

Tudo funciona melhor em equipa

Enquanto caminhamos, vamos descobrindo os amigáveis Rot. Os Rot são uma espécie animal imaginária que, não só nos fazem companhia, como também são úteis no combate, pois possuem habilidades próprias que auxiliam Kena aquando das lutas com inimigos que vai encontrando pelo caminho.

Os Rot.

A introdução dos Rot no caminho de Kena (e do nosso) é uma mensagem implícita e muito importante para todos os que têm a oportunidade de experienciar este mundo mágico. É muito mais do que “a união faz a força”. Numa fase introdutiva do jogo, conhecemos o Village Elder, um velho espírito que nos apresenta à vila e encaminha-nos na direção do nosso dever, apresentando-nos Beni e Saiya (os primeiros espíritos que ajudamos).

No meio destas introduções, diz-nos algo que é impossível não sentir: um guia espiritual é um ser solitário, devido ao seu compromisso. No entanto, é precisamente este velho espírito que nos apresenta os Rot, os nossos amigos acompanhantes de viagem espiritual. É muito mais do que “a união faz a força”; mesmo que estejamos sós e sejamos solitários, seja por que motivo for, não temos nem devemos de passar pelas coisas sozinhos. E isso… é libertador.

A icónica frase de Village Elder explica também o motivo pelo qual não exploramos, enquanto jogadores, a história da personagem principal. Afinal, o propósito de Kena é ajudar os outros a passar a ‘ponte de espíritos’ e não a atravessá-la.

Cá dentro inquietação, inquietação

Apesar de o aspeto visual ser absolutamente encantador devido ao design aplicado ao mundo de Kena e às personagens, a jogabilidade em Kena: Bridge of Spirits parece um pouco “presa” devido à fraca progressão e à narrativa que podemos considerar branda, pelo facto de não explorarmos, por completo, as histórias das personagens com as quais contracenamos. Ou seja, conhecemos a realidade dos espíritos que ajudamos, mas apenas o que os levou até ali, não o seu passado e desenvolvimento – o que não nos permite conectar emocionalmente com eles como devíamos.


Continua…

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