Remnant 2 – Análise

Ao longo de mais de três dezenas de horas de jogo de Remnant 2, saltei de uma cidade sombria que lembra Yharnam de Bloodborne, para planetas repletos de robôs e parasitas dignos de um filme de Ridley Scott, com direito a uma passagem rápida por florestas encantadas com criaturas gigantes e nem por uma única vez me perguntei se isto fazia sentido – não, a única coisa que quis saber é o que se esconde por detrás da próxima esquina.

Remnant 2 está repleto destes momentos e ainda que admita que sou um tremendo fã de tudo o que envolva loot, também é importante que este faça sentido e que tenha impacto no meu gameplay. Se a exploração e combate também forem aliciantes, então é uma fórmula que me agarra completamente e neste caso, Remnant 2 foi uma agradável surpresa.

Depois do sucesso relativamente discreto de Remnant: From The Ashes, o estúdio Gunfire Games voltou à carga com uma sequela, que reforça a aposta na peculiar fusão de um looter shooter com um soulslike, guiado por cenários gerados de forma aleatória. No papel, é uma ideia dificíl de concetualizar, mas a verdade é que funciona e bastante bem, graças à ideia do multiverso que Remnant apresenta, desprendida de qualquer base pseudocientífica aborrecida.

O jogo não perde tempo em colocar-me bem no centro da ação. Depois de um curto tutorial de meia hora, fiquei a conhecer os conceitos básicos do jogo e do enredo. Basicamente, a Terra foi destruída por uma invasão de seres que se assemelham a árvores alienígenas, conhecidas como Root, e agora a única esperança da humanidade passa por utilizar a World Stone, um cristal que permite visitar outros universos. Cada um destes universos tem todo um ambiente e história radicalmente diferente, unidos apenas pelo fio da narrativa principal, que diga-se de passagem, é bastante ténue.

Resumidamente, temos Clementine, uma jovem rapariga que mal conhecemos, que é absorvida pela World Stone e que se cruza com uma entidade poderosa que nos dá a missão de visitar outras realidades para matar deuses e trazer de volta as suas essências.

Felizmente, cada um dos mundos que visitamos é muitíssimo mais interessante, em boa parte devido ao combate e mecânicas de loot do jogo, como também às histórias independentes que cada um deles alberga. A natureza aleatória dos mundos de Remnant 2 também ajuda bastante neste sentido. Cada campanha é gerada de forma aleatória, não só em termos de ordem, como do próprio conteúdo que encontramos em cada um dos locais.

Esta figura misteriosa podia muito ser um NPC de Bloodborne.

Por exemplo, numa campanha encontrei um NPC no palácio real de Losomn que me convidou para um banquete repleto de comida rançosa. À primeira dentada, o meu personagem sucumbiu a uma fúria esfomeada e tive que enfrentar uma horda de inimigos que começou a aparecer das paredes – com a agravante de que para recuperar vida tinha que os devorar ou os meus companheiros de equipa. Noutra visita ao mesmo palácio, encontrei uma estrutura totalmente diferente, e um NPC que me desafiou para uma espécie de jogo de xadrez.

Já o palácio de Losomn tem um aspeto totalmente diferente.

O sistema de progressão é incrivelmente refrescante – é impossível descobrir todos os segredos que Remnant 2 esconde numa só playthrough. Para além da campanha, também podemos participar no modo aventura, que gera uma nova versão aleatória de um mundo que já explorámos. Estas instâncias são ideais para desvendar mais segredos, enfrentar bosses inéditos e claro, procurar melhor equipamento, ou não fosse isto um looter shooter.

Neste aspeto, Remnant 2 não desilude, mostrando-se muito competente tanto no lootin’, como no shootin’. Fiel às raízes de Soulslike, é necessário gerir uma barra de stamina para correr, desferir golpes com armas de combate corpo-a-corpo e claro, para nos desviarmos dos golpes dos inimigos. Neste aspeto, não há nada de revolucionário, tal como mandam as regras, um descuido pode provar-se fatal, mesmo contra inimigos mais fracos. No que toca ao gunplay, as armas têm um corpo e peso notável – as shotguns derrubam os inimigos num par de tiros, as metralhadoras cospem chumbo a um rimo alucinante, os revólveres têm um impacto que fazem tombar os monstros e nem mencionei as armas dos bosses, que vêm carregadas de efeitos especiais. Temos carabinas que criam espadas em nosso redor, pistolas que geram cubos de energia que servem como escudo ou modificações que nos permitem disparar parasitas alienígenas.

As possibilidades no que toca à criação de builds são imensas.

Para além de carregados de recompensas suculentas, os bosses de Remnant 2 são um destaque por si só. Ainda que alguns não passem de versões mais fortes de inimigos normais, outros tantos oferecem uma experiência fantástica, obrigando-me a assumir novas táticas e a explorar ao máximo o poder da minha build. Num dos combates de boss mais memoráveis do jogo, enfrentei um conjunto de cubos gigantes no meio de um labirinto. Em vez de força bruta ou de um DPS Check clássico, tive de memorizar o padrão do movimento dos cubos e traçar uma dança para destruir os pontos fracos de cada um deles. O melhor de tudo, é que tenho um bichinho dentro da minha cabeça a convidar-me a enfrentá-lo outra vez e a embarcar numa nova aventura aleatória, à procura de novos bosses.

O mesmo bichinho também não se cala com a inúmera possibilidade de builds que Remnant 2 oferece. Para começar, temos cinco classes à escolha, cada uma delas com um estilo de jogo diferente, graças às suas habilidades únicas. A isto acrescem mais umas quantas classes secretas, que podem ser desbloqueadas através do gameplay. Como se isso não bastasse, ainda temos a possibilidade de combinar duas classes, o que já permite construir builds bastante interessantes e dinâmicas.

Alien ou Prometheus? Cada mundo apresenta um bioma completamente diferente.

Em cima deste sistema de classes, o Gunfire Games acrescenta um sistema de loot bastante interessante, permitindo equipar acessórios com impactos significativos e palpáveis no meu gameplay. Este é para mim o grande gancho de Remnant 2 – a cada tesouro ou quest, descobri um acessório ou modificação para uma arma que me permite avançar na minha build, ou mudar para uma completamente nova. No meu caso, que escolhi a classe de Challenger, uma espécie de tank perito em combate a curtas distâncias, descobri um anel que faz o meu personagem recuperar 10% dos pontos máximos de vida cada vez que sou atingido.

A partir deste ponto de partida, fui talhando a minha build com outros blocos de construção: uma modificação que cria um escudo cada vez que ataco com a minha espada; acessórios que aumentam a armadura e a regeneração de vida; um anel que me faz recuperar vida quando estou perto de inimigos que estão a sangrar e claro, uma shotgun de dois canos, com uma modificação que concede dano cada vez que a recarrego. Para quem gosta de theorycrafting, Remnant 2 oferece horas e horas de diversão.

Os stats do nosso personagem são distribuídos por cartas de traits, que podem ser desbloqueadas à medida que progredimos no jogo, o que nos dá ainda mais razões para explorar os mundos de Remnant 2.

O melhor de tudo é que Remnant 2 pode ser desfrutado com mais dois amigos, transformando uma aventura potencialmente solitária numa atividade extremamente divertida, especialmente quando não há duas campanhas iguais. Mesmo que tu e os teus amigos já tenham avançado no jogo, vão sempre ser surpreendidos com novos segredos ou locais que nunca viram. Ainda que Remnant 2 sofra de alguns problemas de performance e de equilíbrio no modo cooperativo, tornou-se imediatamente numa das minhas atividades favoritas entre amigos, e que recomendo a todos os fãs de soulslikes ou looter shooters. Se forem fãs de ambos os géneros, então ainda melhor.

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