Mortal Kombat 1 – Análise

Mais de 30 anos depois da sua génese, uma das mais reconhecidas franquias dos beat em’ ups está de regresso para voltar a mostrar a razão pela qual é incontornável para os fãs do género e se tornou numa marca da cultura popular moderna. Afinal, quando lês a palavra Fatality, qual é a voz que ouves na tua cabeça?

Narrativamente, Mortal Kombat 1 nasce das cinzas dos eventos de Mortal Kombat 11 e da sua expansão. Caindo no cliché moderno que o Universo Cinemático da Marvel ajudou a popularizar, a linha temporal dos universos de Mortal Kombat 1 foi reiniciada por Liu Kang, que aqui é um poderoso Deus do fogo. A narrativa não é definitivamente o ponto central de um jogo de luta, mas a verdade é que Mortal Kombat também nos habituou a histórias interessantes e apelativas. Tendo em conta que o jogo serve como uma espécie de reboot, este modo ganha uma nova importância para enquadrar as novas versões das personagens que tão bem conhecemos.

Ao longo da narrativa, ficamos a conhecer gradualmente os personagens do jogo, que crescem e evoluem à medida que avançamos nos capítulos. Dos começos humildes de Raiden e Liu Kang, que não passam de simples camponeses, à amizade do arrogante Johnny Cage com o determinado Kenshi passando pela exposição acrescida de Reptile e Baraka, que aqui têm mais espaço para desenvolver a sua história: a narrativa de Mortal Kombat 1 tem uma qualidade muito acima da média. É quase como um filme repleto de homenagens aos clássicos – as referências e inspirações são claras, não tivesse Mortal Kombat nascido numa época dourada dos filmes de ação. Com cerca de seis a sete horas de duração, a campanha de Mortal Kombat 1 prendeu-me à cadeira e deixou-me agarrado ao comando, mesmo nos capítulos finais, que embora sejam bastante divertidos em termos de gameplay, são uma mixórdia temporal.

Felizmente, não há qualquer confusão para os produtores do NetherRealm no que toca ao gameplay de Mortal Kombat 1, que se mantém simples, acessível e deliciosamente brutal. A grande novidade é a introdução dos Kameos, personagens secundários que podem ser chamados a qualquer momento durante os combates. Cada um destes personagens utiliza diferentes habilidades, que fazem toda a diferença nas lutas, abrindo toda uma nova camada estratégica. A sua utilização é simples, basta um toque num botão para chamar o nosso Kameo, para interromper um combo adversário, abrir portas aos nossos combos, ou colmatar uma falha no arsenal de ataques do nosso personagem. Suspeito que os profissionais terão aqui um sistema para destilar ao pormenor, com combinações para todos os estilos de jogo.

Os movimentos de cada personagem são relativamente simples. Já os veteranos também têm acesso à informação detalhada sobre cada ataque.

É um sistema relativamente simples, e ainda que não seja totalmente inovador no género, a sua implementação em Mortal Kombat 1 oferece uma lufada de ar fresco aos veteranos. Mortal Kombat 1 mantém a filosofia da série, com combos relativamente fáceis de executar – o truque é saber quando os utilizar e como os encadear com os Kameos.

Fora da campanha, Mortal Kombat 1 tem uma oferta multiplayer um tanto quanto pobre quando comparada aos seus congéneres atuais. Para além do modo King of the Hill e do modo Ranked, não há muito mais para ver – o modo Warrior Shrine e o crossplay só chegam mais tarde. Ainda assim, isto não significa que seja mau. Na minha experiência, fui varrido a torto e a direito, mas (infelizmente para o meu ego) não pude culpar a qualidade de ligação, o lag ou qualquer outro fator externo pelas vezes que os meus lutadores foram dilacerados.

Já no que toca à componente singleplayer a conversa é outra. Para além do regresso do clássico modo Towers, temos a estreia do Invasions, que transforma Mortal Kombat numa espécie de jogo de tabuleiro, brincando com a temática do multiverso da campanha. Em Invasions, entramos num tabuleiro onde temos de enfrentar uma série de desafios. Começamos por combates simples, que se tornam progressivamente mais complexos e desafiantes à medida que avançamos. Por exemplo, alguns inimigos ganham Super Armour, ficando invencíveis durante alguns ataques, forçando-nos a assumir uma abordagem mais criativa.

O primeiro tabuleiro de Invasions leva-nos numa aventura pela mansão de Johnny Cage.

A isto juntam-se modificadores, que por exemplo, podem introduzir nas lutas pequenos dragões que surgem a qualquer momento para cuspir bolas de fogo. Juntando a isto os elementos de cada lutador, que relembram o sistema de Pokémon, os talismãs que podem ser usados nos combates e os amuletos que podem ser equipados, temos um modo que pode fazer as delícias de quem prefere jogar sozinho e não dispensa um sistema de progressão com um cheirinho RPG. Ainda que se torne um tanto quanto repetitivo após um par de horas, é um snack que não me importo de voltar a picar.

Visualmente, Mortal Kombat 1 é absolutamente impressionante e destaca-se de todos os outros jogos de luta. Os gráficos são de cortar a respiração, as animações dos lutadores estão fluídas e precisas e as arenas resplandecem de cor e detalhes que tornam cada uma delas únicas. Não estivesse alguém a tentar desmembrar-me e passaria mais tempo a olhar para o pano de fundo. Com toda esta qualidade e atenção, o NetherRealm conseguiu estabelecer uma nova fasquia para o que se pode esperar a nível visual num beat ‘em up.

Até a própria brutalidade exagerada das fatalidades ganha uma nova dimensão com esta qualidade visual, mas nem por isso o estúdio se inibiu de brincar com a violência: podes rebentar com o planeta inteiro com a fatalidade de Cyrax, e não, isto nunca deixa de ser estupidamente divertido.

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